Qualquer conversa sobre espaço público começa pela definição do cabe dentro desse conceito. Onde fica o limite do que é público e privado?

É certo que uma rua é um espaço público.

E um caminho? E uma estrada? E uma via rápida? Uma rotunda? Um estacionamento? Um descampado? Um canteiro? Uma horta urbana?

Muito da maneira como olhamos para os espaços públicos vem do imaginário da cidade tradicional, que todos (pelo menos neste contexto português) partilhamos: a rua, avenida, a praça, o jardim. E mesmo com a disseminação de outras tipologias, associadas a novos usos ou formas de lazer – passeios ribeirinhos, parques urbanos – o que reconhecemos como espaço público é ainda bastante associado a uma certa ideia de qualidade do espaço, e mais importante, de interacção social.

Acontece que a cidade de hoje é bastante mais vasta e mais diversificada, com formas urbanas e modos de vida muito variados que desafiam constantemente essas ideias pré-concebidas. Neste processo, o espaço público, como elemento fundamental da estrutura e da vida urbana também é parte desta transformação e reflecte novas formas de produção e de apropriação dos lugares.

Por isso, a partir da definição mais simples (mas também mais flexível) de espaço público – um espaço aberto e acessível a todos – interessa-nos aplicá-la à variedade de formas e de usos dos tecidos urbanos contemporânea. E isso implica, olhar e considerar espaços que têm desenho e usos canónicos, mas também para outros que desafiam a sua utilização pública pelo desenho restritivo que têm, ou que são assumidamente híbridos entre o caráter público e privado, ou individual e colectivo. Porque isso permite abraçar a complexidade de formas e de práticas urbanas e para melhor compreender as dinâmicas de hoje e as possíveis (e necessárias) transformações futuras.